Avenida Beira-Mar: cerca de 600 pessoas participaram do evento, com faixas e cartazes (Foto: Daniel Roman)
Evento alerta para a violência que acontece dentro de casa, com exploração financeira, maus-tratos e negligência
Não faltaram disposição e vivacidade, ontem de manhã, na caminhada do Dia de Enfrentamento à Violência contra a Pessoa Idosa na Avenida Beira-Mar. Apesar do atraso, do encurtamento do percurso para poupar os participantes e do sol quente, cerca de 600 pessoas participaram do evento mostrando cartazes, faixas e reivindicando garantia de direitos a pessoas com mais de 60 anos. Neste ano, só em Fortaleza, até maio foram denunciados 99 casos de violação de direitos a esse público.
O índice revela que a situação do idoso, na Capital, é preocupante. Do total de casos, 77 foram confirmados e quando necessários encaminhados ao Ministério Público Estadual (Promotoria do Idoso). Por conta dessa situação, a maioria das faixas e cartazes enfatizava o fim da violência contra o idoso. Maus-tratos, apropriação indébita e exploração financeira são ocorrências comuns.
De acordo com a coordenadora do Núcleo de Atendimento à Pessoa Idosa Vitimizada (Napiv), Mirla Linhares, as denúncias dizem respeito, em geral, a circunstâncias ocorridas dentro da casa da vítima. O agressor, na maioria dos casos, é alguém da família. Isso se refere a casos de negligência, omissão, recusa do responsável familiar, exploração financeira e até violência física.
“É comum acontecer desvio de recurso para fins que não são de saúde, vestuário e alimentação”, avisa. Em outros casos, o familiar se apropria do cartão bancário do idoso, retira sua aposentadoria do banco e não repassa o valor para o real beneficiário.
No Brasil, há mais de 18 milhões de idosos, segundo o Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em Fortaleza, o número ultrapassa os 270 mil. Atendidos pela Prefeitura, através dos Centros de Referência da Assistência Social (Cras), da Secretaria Municipal de Assistência Social, são 3.430, divididos em 26 grupos.
Esses são os que mantêm vínculo com a família e a comunidade e não sofrem violação dos seus direitos, de acordo com informações do coordenador da Proteção Social Básica da Semas, André Menezes.
Já o Napiv atende cerca de 200 idosos que sofrem ou sofreram algum tipo de violência. “O preconceito impede a garantia de direitos, como atendimento prioritário e acessibilidade”, diz Mirla Linhares.
Com entidades conveniadas, como o Lar Torres de Melo e outras da própria Prefeitura, cerca de 11 mil idosos são atendidos. O importante, na opinião de Menezes, é o idoso se reconhecer como sujeito de direito. Essa é uma forma de prevenir vários tipos de violência.
Apesar da animação, da distribuição de água e do acompanhamento de jovens e voluntários, alguns idosos passaram mal durante a caminhada. O percurso, que ia do extinto Hotel Esplanada à Praça dos Estressados, encerrou-se no cruzamento da Beira-Mar com a Desembargador Moreira.
Não havia ambulância no local, apenas agentes de trânsito na frente e atrás da caminhada. Uma viatura do Ronda do Quarteirão também esteve no evento. De acordo com a supervisora de Proteção Social da Semas, Paula Brandão, um paramédico em moto fez atendimento de saúde a apenas uma pessoa que teve vertigem.
ENQUETE
Como o Sr. (a) vê a atenção ao idoso?
Maria Liduína Silva de Oliveira
60 ANOS
Dona-de-casa
Minha auto-estima era lá em baixo. Hoje sou outra pessoa, sou feliz. Essa turma é minha terceira família
Zacarias Cariolano da Costa
70 ANOS
Aposentado
O idoso tem que ser tratado com paz, com calma. As pessoas são impacientes, tratam com violência
Josefa dos Santos Lima
75 ANOS
Pensionista
Faço ginástica, trabalhos manuais, passeio na cidade, participo das palestras com médicos, assistentes sociais
Fonte: Marta Araújo - Repórter Jornal Diário do Nordeste
Mais informações:
Para denunciar violência contra o idoso, basta ligar 0800-285088
A ligação é gratuita
A identidade do denunciante é preservada